O que se passou no passado Domingo em Algés é demasiado grave para que não façamos uma referência e não se faça uma reflexão sobre estes tristes acontecimentos. Infelizmente, também na nossa modalidade, tal como na sociedade portuguesa em geral, estamos a assistir a um crescendo de atitudes violentas absolutamente intolerável. Cada vez há mais pessoas que julgam que têm o direito de usar da violência para com os outros e de forma absolutamente incontrolável e sem medir as consequências. Têm havido esta época diversos casos de violência dentro e fora dos ringues e mesmo dos pavilhões que nos têm de deixar preocupados e a procurar soluções.
Todos nós , como pais, dirigentes, treinadores, árbitros, atletas, ou simples adeptos temos responsabilidades na prevenção destas situações e não nos podemos demitir dessas mesmas responsabilidades. A educação e a formação tem de começar em casa pelos valores que transmitimos e nos exemplos que damos aos nossos filhos. Nos clubes, os seus dirigentes e técnicos têm de definir regras claras de comportamento e não tolerar situações desta natureza. A nível de Federação e Associações, os regulamentos ( que existem) devem ser aplicados de forma implacável para situações desta natureza, tal como em ringue os árbitros têm de punir actos de violência. Como simples adeptos, sobretudo nos escalões de formação, não nos poderemos limitar a torcer pelas nossas cores mais ou menos apaixonadamente mas sem que isso implique cairmos nos insultos, provocações e atitudes menos próprias ?
Existe outro ponto que deve ser abordado, que é o do policiamento. Há muito anos atrás, todos os jogos eram obrigatóriamente realizados com a presença de agentes da autoridade. Depois, por questões financeiras, esse policiamento ficou apenas a ser obrigatório para os jogos do escalão Sénior. Numa altura em que a violência tem aumentado de forma significativa, não será recomendável voltar a ter policiamento em todos os jogos, pelo menos para os escalões de Iniciados, Juvenis e Juniores? As questões financeiras deverão prevalecer relativamente às questões de segurança?
Levantamos aqui algumas questões que podem servir para uma reflexão individual, familiar, mas também ao nível dos próprios clubes, associações e federação. Todos dentro do espaço em que estamos inseridos, temos a obrigação de nos envolvermos nesta questão. É um assunto demasiado grave para que só nos possa afectar quando nos atingir pessoalmente. Pode ser demasiado tarde.
2 comentários:
Ora cá está uma reflexão ponderada e serena, acerca de uma situação que a todos nos chocou. Concordo com a maioria das coisas que diz o Pedro Vaz, aliás já nos habitou às suas observações com perspicácia. Refere e bem que os valores devem ser incutidos em casa, e potenciados nos balneários e ringues. Muitos esquecem-se que para além de formar atletas, estão a formar Homens. Os jovens de hoje serão os homens de amanhã.
Será o Desporto o reflexo da sociedade implacável que vivemos? Será o retorno ao princípio de que só os mais fortes têm direito à vida? Mas como se hoje somos todos fortes, só através da eliminação com base na violência é que os fortes se tornarão ainda mais fortes?
O Árbitro João Paulo Romão escreveu no site da ANAHP um comentário, e não concordando com ele algumas vezes, desta corroboro e assino por baixo o que foi escrito por ele e com toda a razão, e que transcrevo:
"...escrevo estas palavras com sentimento de culpa, porque estando eu também inserido no processo de formação dos jogadores de hóquei, também fui uma peça da máquina que funcionou mal na formação dos mesmos."
É assim que também me sinto e acredito que todos os agentes desportivos da nossa Modalidade também devem estar como eu, algo falhou e todos podemos e devemos assumir responsabilidades, e ter sempre em mente daqui para a frente o desastre de Algés, e trabalhar para que nunca mais aconteça.
Não acredito que o policiamento venha alterar o que quer que seja, não foi por falta de polícia que o Ricardo foi agredido, foi acima de tudo pela falta de mentalidade desportiva, de valores morais e éticos e desrespeito pela vida humana. Não podemos ter jovens que vão para dentro de um ringue despejar as frustrações e stress do dia a dia.
No mesmo fim de semana em que os dois maiores clubes de Portugal deram um exemplo de desportivismo, inteligência e civismo (O. Hospital) em que me orgulhei de ter participado; aconteceu exactamente o oposto. Hoje o que senti naquele Torneio é relegado para 2.º plano pelas atitudes irreflectidas de uns quantos jovens a quem lhes faltou alguma coisa.
Isto é que é preocupante, que jovens estamos a formar?
Cumprimentos a todos,
Paulo Rodrigues
Amigo Paulo Rodrigues,
Relativamente ao seu comentário, verifico com satisfação que estamos em sintonia e que felizmente há muitas outras pessoas que comungam deste sentimento de preocupação e de indignação. Também tinha lido as palavras do João Paulo Romão no site da ANAHP, que vão de encontro a uma ideia fundamental. Não podemos assobiar para o lado, a fingir que não é nada connosco e que as responsabilidades são dos outros e que os outros é que têm de tomar medidas.
Relativamente ao policiamento, é evidente que enquanto houver pessoas mal formadas estas situações podem acontecer. Mas a presença das autoridades pode ser disuasora na maior parte das ocorrências e no caso de serem ultrapassados todos os limites, como sucedeu em Algés, podem intervir para evitar males maiores ( que também foi o que aconteceu) e garantir uma maior segurança. Infelizmente tenho conhecimento directo de situações de muita violência ocorridas esta época, que a presença de forças de segurança teria evitado.
Um Abraço
João Pedro Vaz
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